17 de nov. de 2018
Por: Heloísa Capelas
“Por que é que você faz o que você faz do jeito que você faz?”. Há mais de 35 anos, eu me proponho a essa reflexão todos os dias. E, todos os dias, encontro, na resposta, um caminho para me reconectar ao meu propósito de vida. Hoje, eu quero lhe explicar porque adotei esse hábito e porque acredito que você deveria fazer o mesmo. Ou melhor: hoje, quero lhe falar sobre os benefícios e a importância do autoconhecimento – e porque acredito que você deve investir nesta poderosa ferramenta.
Antes de mais nada, preciso dizer que entendo as possíveis dificuldades que você enfrentará neste caminho. Para uma porção de gente, olhar-se no espelho é mesmo um exercício muito, muito difícil.
E sabe por quê?
Porque, infelizmente, muitos de nós só fomos treinados a exercitar o olhar crítico. Aprendemos, desde a infância, que o elogio “deforma o caráter”, enquanto a crítica serve de estímulo para a evolução. E, por isso, pegamos superpesado em toda e qualquer tentativa de avaliação – seja direcionada a nós mesmos, seja direcionada aos outros.
Isso me faz lembrar de uma aluna que esteve na última turma do Processo Hoffman. Uma moça inteligente, bonita e bem-sucedida na carreira e na vida familiar. Tinha seus problemas e questões, claro, como todo e qualquer ser humano na face da Terra. Mas, quando falava sobre si mesma, a impressão era que se referia a outra pessoa tamanha a autodepreciação!
– “Consegui uma promoção no ano passado, mas pudera: estou na empresa há mais de cinco anos, não fiz mais que minha obrigação”.
– “Meu marido diz que me ama, mas não entendo como. Eu estou super acima do meu peso ideal e cheia de rugas”.
– “As mães dos coleguinhas dos meus filhos estão sempre em todos os eventos escolares; eu só consigo acompanhá-los em dois ou três festinhas por ano e olhe lá”.
O trabalho que fizemos com essa moça durante o treinamento foi incrível! Mas você não imagina o quanto de dedicação e de coragem foi preciso para que ela percebesse a distorção que fazia sobre sua autoimagem. Ela não era perfeita; mas, também, estava longe de ser a profissional, esposa ou mãe que pintava sobre si mesma e para si mesma, como se estivesse sempre deixando a desejar.
Em resumo, a autocrítica exagerada vinha a destruindo por dentro. Não importa o quanto se esforçava, sentia que estava sempre um passo atrás de onde deveria ou gostaria. Vivia frustrada, insatisfeita, infeliz, cansada e com raiva… Tudo porque sua própria cabeça a convencia de que não era boa o suficiente.
Este é o primeiro benefício do autoconhecimento: ao praticá-lo, você, assim como esta aluna, ganha a capacidade de se enxergar com honestidade e abertura, sem julgamentos excessivos. Você se apropria das suas qualidades e dos seus defeitos, do seu bem e do seu mal. E, se estiver verdadeiramente disposto(a) a ir além, conquista amor-próprio para perdoar a si mesmo pelas eventuais falhas e se propor às transformações pessoais que desejar.
Mas, além deste, existem outros bons motivos para investir em autoconhecimento! Vamos a eles?
Você sabia que a insegurança e o medo andam de mãos dadas? É isso mesmo. Pessoas inseguras, via de regra, morrem de medo! Elas temem o fracasso, a rejeição, a falta de reconhecimento, o desamor. E, porque têm tudo isso de medo, desenvolvem ainda um outro comportamento: fazem o possível e o impossível para controlar tudo o que acontece, dentro e fora de suas vidas.
É mesmo muito difícil lidar com a insegurança. porque também é muito difícil lidar com tanto medo e com tanta necessidade de controle. Mas, como todas essas emoções nascem de dentro para fora, é possível amenizá-las e até eliminá-las também de dentro para fora.
Como? Bem, com autoconhecimento. Sempre que se sentir inseguro e/ou com medo, questione-se: por que é que estou sentindo isso? O que foi que despertou essa emoção? E o que é que posso fazer para me sentir a melhor a respeito?
A minha dica é que você procure obter melhor discernimento sobre suas emoções. Ao refletir sinceramente sobre o que você sentindo, terá dado um passo importantíssimo rumo à autoconsciência e, a partir daí, poderá dar início às mudanças pessoais que desejar.
O autoconhecimento, como disse antes, reforça a nossa autorresponsabilidade. A partir da consciência de nós mesmos, ganhamos a chance de compreender que somos os únicos responsáveis por nossas vidas, não importa as circunstâncias.
Em outras palavras, o autoconhecimento nos permite compreender como foi que nos tornamos quem e como somos hoje para, então, escolhermos como e quem queremos ser de agora em diante. E que este poder de decisão somente cabe a nós mesmos; não é papel de mais ninguém.
Isso é inteligência emocional, ou, pelo menos, é um passo importantíssimo para que se desenvolva essa competência. A capacidade de olhar para si mesmo, de conhecer a si mesmo e de compreender a si mesmo é essencial para que se possa usar as próprias emoções de maneira muito mais positiva.
Muita gente ainda confunde autoconhecimento com egocentrismo; amor-próprio com egoísmo. Precisamos urgentemente nos desfazer desse paradigma, porque, na verdade, pessoas com elevada consciência de si mesmas são as que estão mais bem-preparadas para ir muito além do ego. Elas conseguem se apropriar tanto e tão bem de suas próprias qualidades e falhas que, também, tornam-se capazes de fazer o mesmo por aqueles que estão em seu entorno.
Em outras palavras, frequentemente, quanto maior a consciência de si, maior será sua capacidade de praticar empatia e compaixão nos relacionamentos. E não é isso o que todos nós desejamos?
Acredito que o que falta às relações humanas não é amor, mas, sim, empatia. Temos tido imensa dificuldade em nos colocar no lugar do outro, em entender pontos de vista diferentes, em aceitar que as pessoas pensam, vivem e sentem de formas diversas.
Queremos entregar amor e receber amor, mas, na realidade, temos vivido de invalidações.
O autoconhecimento é a quebra desse paradigma. Porque quando eu me autorizo a pensar, sentir e viver da minha própria forma; quando eu assumo a responsabilidade pelo o que estou pensando, sentindo e vivendo; eu também compreendo, profunda e verdadeiramente, que o outro tem todo o direito de pensar, sentir e viver como quiser, independentemente da minha opinião ou julgamento.
E você se lembra do que eu disse no início? Fomos treinados essencialmente a criticar. Já imaginou criar relações em que os elogios prevalecem às críticas? O primeiro passo para trilhar esse caminho, evidentemente, é o autoconhecimento.