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Autoestima e amor-próprio: o desabafo de Bruna Marquezine
Heloisa Capelas

10 de set. de 2018

Por: Heloísa Capelas

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“Eu acreditei na opinião alheia e comecei a detestar meu corpo. Achava que tinha que emagrecer de qualquer jeito (…). Junto com tudo isso, tive depressão, não só por isso, mas principalmente por esses motivos, questões de autoestima, por não me aceitar, não me achar bonita o suficiente, consequentemente eu não me achava boa o suficiente para nada. (…) Eu não estava me amando”.

 Extraí o trecho acima de um vídeo gravado por Bruna Marquezine em resposta a comentários negativos deixados por seus seguidores no Instagram. No início de setembro, a jovem atriz veio a público se defender de críticas feitas à sua aparência na rede social e seu relato acabou chocando muita gente. Decidi falar sobre esse assunto por algumas razões.

Primeiramente porque, bem, precisamos urgentemente nos desfazer da ideia de que pessoas ricas ou famosas estão isentas dos problemas emocionais que afetam aos indivíduos “comuns”. Distúrbios alimentares e/ou de autoimagem, depressão e ansiedade são exemplos de doenças que podem se manifestar em qualquer um, independentemente de gênero, raça, condição social, formação, idade, origem, enfim: todos nós estamos sujeitos a elas.

Dito isso, é também importante falarmos sobre o poder da autoestima e do amor-próprio neste contexto – temas que, apesar de frequentemente confundidos, não se referem à mesma coisa.

Para começar, a autoestima está o tempo todo referenciada nos estímulos externos. Ela é construída com base nas nossas competências, na nossa expectativa de agradar aos outros. Autoestima também é nosso posicionamento na vida e, infelizmente, nem sempre está acoplada ao amor-próprio (quando há essa combinação, ou seja, quando desenvolvemos e fortalecemos nosso amor-próprio, aí, sim, conquistamos autoestima elevada).

Retomando, autoestima é aquilo que sabemos fazer de melhor e que, naturalmente, escolhemos vender para o mundo. Ela está ligada ao nosso marketing pessoal, ao que queremos que as pessoas vejam e reconheçam na nossa personalidade, e sempre nos coloca em prol do desejo de obter aprovação.

Falando de maneira mais prática, autoestima é, por exemplo, estudar muito porque se quer passar de ano; obedecer aos pais porque se quer obter algum reconhecimento (como um elogio); agradar ao parceiro para, em troca, receber amor; trabalhar duro para obter uma promoção ou um aumento.

Dito isso, fica mais fácil imaginar como os artistas precisam se relacionar muito intimamente com a autoestima, afinal, todo seu trabalho é feito para o público. Via de regra, seu sucesso depende de conseguirem (ou não) agradar aos outros e, portanto, grande parte de seu esforço é garantir que tenham maneiras efetivas de se posicionar diante dos olhos e ouvidos alheios.

Aliás, meus filhos frequentaram escolas de teatro e, por isso, valorizo bastante o trabalho que essas instituições fazem na construção da autoestima. Em suma, elas ensinam, efetivamente, como podemos nos colocar fisiologicamente diante das situações. Ou seja, como podemos demonstrar alegria, raiva, tristeza, irritação, ansiedade com um simples movimento de ombros; ou a partir da posição da cabeça e da coluna; ou, ainda, a partir da maneira como movimentamos (ou não) a boca, os braços e as pernas. Tudo, absolutamente tudo isso tem a ver com autoestima.

A verdade é que, para construir uma trajetória de sucesso, os artistas que estão expostos na mídia precisam, mais cedo ou mais tarde, desenvolver uma autoestima elevada. Do contrário, quando o tão esperado aplauso não vem, podem se deparar com uma elevada (e, às vezes, irreversível) sensação de frustração.

E, como disse há pouco, a autoestima elevada só é possível a partir do amor-próprio.

O depoimento da Bruna é prova disso. Conforme seu relato, quando esteve insatisfeita consigo, com a própria imagem e o próprio trabalho, acabou por adoecer. Ainda que o mundo lhe dissesse, naquele momento, quão talentosa era; quão bonita, em forma, inteligente ou qualquer outro reconhecimento, muito provavelmente, porque estava sem conexão com seu amor-próprio, não teria como construir uma autoestima elevada. Dependia (e sempre dependerá) essencialmente de seu próprio esforço reunir as forças necessárias para que esteja, de fato, física e emocionalmente saudável.

 

E o amor-próprio?

Amor-próprio nada mais é que a capacidade interna de nos amarmos com todo nosso bem e todo nosso mal. Sempre digo que, enquanto humanos, somos seres duais. Temos toda a nossa luz – ou seja, todas as nossas competências, talentos, sonhos, esperanças, tudo aquilo que a gente sabe fazer bem, toda a nossa capacidade de construir, colaborar e contribuir; e temos toda a nossa escuridão – ou seja, toda a nossa raiva (de nós mesmos e do mundo), toda a nossa pena (de nós mesmos e do mundo), toda a nossa vitimização, desesperança, frustração, maldade, ruindade.

Nós somos constituídos pela soma de tudo isso, portanto, amor-próprio é amar quem somos, mesmo que sejamos falhos e imperfeitos. Amor-próprio, aliás, é reconhecer as nossas falhas e imperfeições, inclusive assumindo para nós mesmos que, muito provavelmente, elas nos acompanharão por toda a vida.

Em suma, amor-próprio é a mais profunda forma de autoaceitação, que vai muito além daquilo que é passível de mudança em nós mesmos. Não se trata, portanto, de aceitar os próprios cabelos, as próprias unhas, o próprio peso ou os aspectos físicos e estéticos que podem ser transformados; trata-se de aceitar a cor da pele, as imperfeições no nariz, as características físicas que nos pertencem e que são imutáveis a nosso respeito.

O amor-próprio, quando instalado, é o que lhe fará ter profundo respeito pelo seu próprio DNA, pela forma como seu corpo foi construído e constituído. É a prática do seu amor incondicional por você mesmo(a), pela pessoa que é, com todas as suas mazelas e vulnerabilidades. E sabe o que mais?

Quando você se apropria desse amor, as críticas externas não mais lhe atingem, ainda que sejam verdadeiras. Se lhe acusarem por sua grosseria, arrogância, braveza, vulnerabilidade, ou qualquer outro aspecto que, de fato, pertença a você, em vez de tristeza ou frustração, você vai experimentar a aceitação: “sim, isso é meu”. E, então, em vez de se deixar abater automaticamente pela opinião alheia, você terá a chance de escolher o que quer fazer a respeito – porque, agora, terá tirado do outro o direito de lhe magoar, e assumido o poder de transformar a si mesmo (se assim desejar).

 

De onde vêm a autoestima e o amor-próprio?

A autoestima e o amor-próprio são construídos na nossa infância, mais especificamente na relação com nossos pais, familiares e cuidadores. Quando eles nos ensinaram, na infância, como usar o banheiro, como manusear os talheres ou como reagir diante de um grosseria, por exemplo, estavam construindo a nossa autoestima; foi ali, naquelas pequenas lições diárias, que aprendemos como nos comportar diante do mundo nas mais diversas situações e como poderíamos expressar quem somos.

Algo similar aconteceu com o amor-próprio, que foi construído a cada elogio ou bronca que recebemos, a cada perdão e a cada castigo. Cada vez que não nos adequamos, cada vez que cometemos um erro ou cada vez que superamos suas expectativas, nossos pais tiveram uma reação; e tenha sido positiva ou negativa, essa reação nos construiu, porque nos ensinou como lidar com nossos acertos e com as nossas falhas.

Então, se o que você deseja é lidar melhor com a crítica alheia; se é tirar, do outro, o poder de lhe magoar, de fazer com que se sinta inferior; ou, ainda, se o que você quer é, tal como a Bruna, parar de se sentir insuficiente, minha dica é que comece por se olhar.

Observe-se. Resgate, se possível, as lições que aprendeu na infância sobre como se comportar e se apresentar para o mundo. Veja quais desses aprendizados ainda lhe fazem sentido e quais podem estar comprometendo sua autoestima.

E, aos poucos, abrace-se, acarinhe-se, ame-se.

Você, como eu, como a Bruna Marquezine e como todo e qualquer humano, é um indivíduo único; como você, só existe você. Perdoe-se pelos erros. Reconheça os acertos. Diminua a autocrítica. E dê um passo de cada vez!

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