01 de ago. de 2018
Por: Heloísa Capelas
Agosto é o mês nacional do perdão e eu, autora do livro “Perdão – A Revolução que Falta”, não poderia deixar de aproveitar esta ocasião para abordar e aprofundar o tema, que é um dos mais cruciais na minha vida pessoal e profissional.
Para começar, quero lhe contar que, desde que lancei este livro, há pouco mais de um ano, continuo impressionada com a repercussão provocada pelo assunto. Primeiramente, porque, claro, é maravilhoso conhecer a história de tantas pessoas que revolucionaram as próprias vidas a partir do perdão!
Mas o que mais me chama a atenção, confesso, não é o resultado positivo alcançado por quem descobriu a importância de perdoar os acontecimentos negativos; eu sei, por experiência própria, que o perdão é o caminho para o bem-estar e para a felicidade, então, para mim, parece natural e necessário fazer essa escolha (e, sim, antes que você pergunte: perdoar é sempre uma escolha possível, mesmo quando essa opção não parece viável).
O que me impressiona de verdade é a dor, a tristeza, a raiva e a mágoa relatadas por aqueles que não conseguiram perdoar de jeito nenhum. Essas pessoas frequentemente me escrevem para compartilhar as suas dores. Algumas, inclusive, sabem exatamente o dia, a hora e o local em que foram “vítimas” de uma falha horrorosa e imperdoável cometida justo por alguém a quem elas amam e/ou admiram:
Esses são apenas alguns exemplos, mas a lista é longa. Em meio a seus relatos, essas pessoas também costumam me perguntar:
Mas como é que eu posso perdoar alguém que me fez mal?
Como perdoar alguém que me traiu?
Como perdoar alguém que não parece se importar comigo?
Como perdoar alguém que não muda?
Ou, pior: como perdoar alguém que não vai mudar e que não quer mudar?
Se você também tem essa dúvida, eu preciso te dizer agora: o perdão não tem nada a ver com o outro. Ou seja, não importa o que vai acontecer com esta pessoa que lhe machucou, magoou, traiu, irritou ou provocou. O que importa é o que VOCÊ vai fazer com este machucado, mágoa, traição, irritação e provocação.
Nesses mais de 30 anos em que trabalho com desenvolvimento humano, fiz uma constatação fantástica… Está pronto(a) para ouvir? Então, lá vai: acontecimentos… Acontecem!
Eu sei, parece óbvio, mas é incrível! O que eu quero dizer é:
a) Queiramos ou não, as coisas acontecem e vão continuar acontecendo;
b) Nós temos pouco ou nenhum controle das coisas que acontecem e continuam acontecendo;
c) Quando muito, temos a habilidade de gerenciar as nossas próprias emoções e comportamentos diante do que acontece e continuará acontecendo.
Dito isso, uma coisa precisa ficar clara: se quase nada está sob nosso controle, que dirá o comportamento das pessoas, não é mesmo?
Mas, por enquanto, chega de falar dos outros… Como disse antes, o perdão começa em você, então, vamos falar sobre você. Quero fazer uma pergunta e preciso que responda honestamente: você já magoou alguém, pediu desculpas, prometeu que nunca mais faria aquilo, mas, eventualmente, cometeu o mesmíssimo erro?
Se sua resposta é não, eu insisto que pense de novo. E de novo. E de novo, até encontrar uma história pessoal, um momento em que você não foi a vítima, mas, sim, o algoz de um acontecimento.
Sim, porque nunca conheci uma pessoa que tenha sido só vítima de todas as situações. Mesmo aquelas que gostam deste papel (e são muitas!) eventualmente se viram na posição contrária. Absolutamente todo mundo no mundo já cometeu uma “ruindade”, querendo ou não, intencionalmente ou não. Eu mesma tenho uma porção de histórias e situações em que, por uma ou outra razão, acabei magoando pessoas queridas repetidas vezes.
Ao pedir que você rememore um acontecimento deste tipo, minha intenção não é fazer com que se sinta mal. O que eu quero é chamar a sua atenção para o seguinte: neste episódio em que você foi o algoz, o que o motivou a agir assim?
Você estava com raiva e, por isso, magoou a outra pessoa deliberadamente?
Você estava dando o troco?
Ou você simplesmente magoou sem perceber?
Ou, ainda, agiu assim porque perdeu o controle da situação e quando se deu conta…?
Por muitas e muitas vezes, eu prometi, às pessoas ao meu redor, que nunca mais agiria daquela forma que as magoou. Mas, sem querer, acabei incorrendo na mesma falha.
Honestamente, eu não queria repetir o erro.
Honestamente, eu estava atenta, comprometida e me esforçando para isso.
Mas, honestamente, eu perdi o controle e, por isso, magoei novamente.
E eu tenho certeza que algo muito semelhante já aconteceu com você. Sabe por quê? Porque todos nós, seres humanos, trazemos, da infância, comportamentos compulsivos e automáticos. E nós recorremos a esses comportamentos sempre que nos vemos em “maus lençóis”, ou seja, sempre que passamos por um momento difícil que nos cause emoções negativas – raiva, medo, insegurança, rejeição, tristeza…
A questão é: se acontece com a gente, por que é que não aconteceria com os outros?
Por que é que só nós teríamos o direito de errar tentando acertar?
Por que é que só nós fizemos sem querer e o outro, com certeza, fez de propósito?
E por que a gente merece perdão, mas o outro não?
Como eu disse agora há pouco, o perdão independe das pessoas. A felicidade também.
O que eu quero mesmo que você perceba hoje é que ninguém – nem você, nem eu, nem seu marido, nem seu chefe – acorda pela manhã com o objetivo: “hoje, eu vou estragar o dia de fulano”. Então, se alguém estragou seu dia, pode apostar: muito provavelmente, essa pessoa não fez de propósito.
A grande inteligência está em COMO você vai lidar com isso. No meu livro, eu cito como exemplo aquelas pessoas que, porque levaram uma fechada no trânsito logo cedo ou porque receberam uma resposta seca do(a) parceiro(a), passam o dia todo no maior mau humor. E pergunto: de quem é a responsabilidade por isso?
Digo, ok, algo ruim aconteceu no seu primeiro horário. E esse acontecimento não foi causado por você, mas, sim, por outra pessoa. Ainda assim, quem é que permitiu que tal episódio contaminasse as demais 16h ou 17h restantes naquele dia? Quem deixou que a raiva tomasse conta e ficasse à frente das demais emoções possíveis? Aliás, quais eram as outras emoções possíveis que deixaram de ser sentidas só porque a raiva estava em primeiro lugar?
Veja como é uma questão de escolha! Você pode escolher. Diante de uma negatividade, respire. Aceite o mal que lhe aconteceu. Depois, cuide-se, ame-se, faça algo que lhe faça bem. Aí, então, perdoe e libere este acontecimento. Infelizmente, foi assim, mas ainda há uma vida inteira pela frente, uma vida contida nessas horas que antecedem o fim do dia.
Em resumo, o que eu quero te mostrar hoje é que, assim como nós, as pessoas ao nosso redor também são compulsivas e automáticas. Elas, assim como nós, são donas da verdade e estão dispostas a brigar para defender a própria verdade. E, por fim, assim como nós, quando ficam com medo, elas também usam o PIOR delas para se defender.
Isso significa que todos nós somos iguais e estamos, apenas, tentando fazer o nosso melhor.
Quando você decide não perdoar ao outro, a decisão que está tomando, na verdade, é a de punir a si mesmo(a). Quem vai sofrer as consequências, quem vai experimentar um dia ruim, quem vai lidar com o mau humor ou com a raiva, bem, infelizmente… Será você. E, talvez, só você (afinal, não dá para saber como o outro se sentiu a respeito).
Por outro lado, quando decide perdoar ao outro, o outro não importa; o que importa é seu coração e sua mente, que ficarão aliviados ao perceber que não precisam mais reviver uma dor que já passou.
Vamos fazer diferente agora?