01 de mar. de 2022
Por: Heloísa Capelas
Mudar é a palavra de ordem de nossa sociedade atual, já reparou? Estamos vivendo num ritmo tão mais acelerado que nossos antepassados que, agora, não podemos mais ignorar o fato de que muitas transformações se darão independentemente da nossa vontade ou escolha.
O que estou lhe afirmando é que, nesse ponto da história da humanidade, alcançamos um novo nível de autoconsciência em que compreendemos, muito claramente, que os mais diversos acontecimentos podem (e vão!) acontecer sem que tenhamos nenhum controle. Nós mesmos somos provas disso, afinal, nossos corpos e células mudam todos os dias, queiramos ou não.
Isso mostra que a mudança é algo natural, ou seja, faz parte da natureza de todas as espécies vivas. Mas, certamente, há algo que nos difere dos outros animais: graças à nossa inteligência, somos capazes de assumir o protagonismo do processo de transformação, em vez de simplesmente assisti-lo passivamente e sem qualquer autonomia.
Em outras palavras, nós, assim como os bichos, não podemos evitar o envelhecimento, por exemplo. Mas, ao contrário deles, podemos fazer com que envelhecer seja algo positivo, não meramente um processo do qual somos vítimas ou coadjuvantes. Para isso, no entanto, temos de sair da nossa zona de conforto.
Você já reparou como nós somos feitos e afeitos às nossas rotinas? Algumas pessoas até me dizem que não suportam a rotina, que não imaginam ficar ‘presas’ num escritório ou num casamento, sem perceber que seguem diversos outros padrões compulsivos e automáticos.
Quer ver só? Por exemplo: eu aposto que você tem alguma ‘mania’ que executa diariamente sem nem mesmo perceber. Pode ser que sempre tome banho pelas manhãs ou somente antes de dormir. Pode ser que adote sempre o mesmo ritual para o café da manhã ou para o preparo do jantar. Pode ser que lave a louça, corte as unhas, deite-se na cama, enfim, que faça uma ou outra coisa do dia a dia sempre de um mesmo jeito.
Isso é rotina, ou seja, um ou mais comportamentos que “repetimos desde que nos entendemos por gente” só porque eles nos trazem conforto. E faz todo sentido. Pense só que os bebês precisam de uma rotina para que possam crescer saudáveis. Aliás, a segurança que advém dos hábitos rotineiros é o que lhes dá incentivo para que possam se desenvolver neurologicamente.
A ciência já sabe, por exemplo, que, nas famílias disfuncionais, o ambiente de insegurança contribui diretamente para que as crianças desse lar se tornem adultos neurologicamente e/ou fisicamente comprometidos.
Portanto, se estamos aqui, hoje, saudáveis, é sinal de que somos filhos de lares minimamente seguros – onde as rotinas adotadas, de uma forma ou de outra, colaboraram para que crescêssemos e nos desenvolvêssemos.
Assim como os bebês, nós, adultos, também gostamos das rotinas e das nossas zonas de conforto porque elas nos dão segurança. Mas, ao contrário desses pequenos seres, nós já temos nosso sistema neurológico desenvolvido e absolutamente preparado para todos os passos que quisermos dar. Por que é, então, que não conseguimos caminhar para outra direção? O que nos faz voltar correndo para o nosso lugar comum – até mesmo quando se trata de algo que nos faz mal?
Eu dirijo esse artigo às mulheres porque, embora o medo da mudança seja comum a ambos os gêneros, para nós, do sexo feminino, há outros fatores em jogo. Como, por muito tempo, fomos tratadas como inferiores, deixadas de lado e subjugadas pelos homens, temos, ainda, um grande resquício desse paradigma na nossa sociedade.
Por isso, mesmo sem perceber, muitas mulheres ainda estão presas às crenças e valores que as devolvem à essa posição de inferioridade. Esse é seu lugar comum, sua rotina e zona de conforto, ainda que lhes faça tão mal.
E então, numa época em que tanto se fala sobre a inteligência e o poder do feminino, é necessário que consigamos quebrar esse paradigma para empreender uma mudança consciente. E digo consciente porque, no passado, nos atribuíram uma série de “rótulos” que nos acompanham até hoje, mas todos no nosso inconsciente!
Perceba: muito provavelmente, assim como eu, você também ouviu que mulher dirige mal, que lugar de mulher é na cozinha, que existe mulher para casar, entre tantos outros estereótipos e pré-conceitos. E, se não fizermos um esforço sério e profundo de olharmos para nós mesmas, continuaremos comprometidas com essas ideias só porque esses aprendizados estão incutidos na nossa memória.
Essas ideias todas que trazemos sobre o feminino desde nossa infância nos dão referência e segurança, ainda que comprometam a nossa saúde, o nosso bem-estar e até mesmo a nossa felicidade. E somente quando pudermos amadurecer emocionalmente é que seremos capazes de nos preparar para uma mudança que já começou.
O que eu estou lhe propondo aqui nesse artigo é que se olhe a partir de outro ponto de vista. Que se permita questionar, refletir e debater sobre o que entende sobre ser mulher e sobre o feminino. Que olhe este tema com carinho e profundidade sob vários ângulos.
Talvez, nesse trajeto, você se sinta tentada a voltar ao seu lugar comum porque ele lhe dá conforto, mas, a verdade, é que agora não temos mais tempo: ou vamos assumir, nas mãos, a responsabilidade por essa guinada, ou a sociedade e “os outros” vão, mais uma vez, nos empurrar para aonde quiserem e acharem por bem.
Como disse no início, a mudança já está em andamento, queiramos ou não. O que nos resta fazer é decidir se seremos vítimas da avalanche de transformações que estão por vir ou se assumiremos o controle com autoconsciência e decisão.
O feminino incutido em você precisa amadurecer para que, agora, você tenha escolha. Para que possa se mobilizar. E para que possa decidir a mulher que quer ser, como quer ser, sem que ninguém mais lhe diga o que está certo ou errado. Está nas suas mãos definir quais ações e comportamentos lhe trarão plenitude, orgulho e satisfação de ser quem e como você é.
E eu sugiro que faça isso a partir de já, agora mesmo, antes que as respostas venham de fora – e antes que, mais uma vez, alguém decida por nós.
Espero que tenha gostado! Até a próxima.