10 de out. de 2021
Por: Heloísa Capelas
Hoje, estou aqui para falar sobre um assunto bastante delicado e difícil para muitos casais. A verdade é que ninguém entra num casamento pensando que, um dia, acabará se divorciando, muito menos que terá de lidar com essa realidade com os filhos ainda pequenos… Mas, sim, para muitos, a separação é a única saída possível, então, temos de pensar e agir para fazer com que este momento seja o menos traumático possível para todos os envolvidos.
Em primeiro lugar, então, antes de falarmos especificamente sobre como o divórcio pode ou não afetar seus filhos, preciso lhe dizer algo essencial: não importa quanta mágoa, ressentimento, frustração ou dor o seu parceiro ou parceira tenha lhe causado, a separação precisa ser para o bem. Ou seja, só faz sentido que você saia desta relação se for para dar início a uma nova fase, em que aquele desamor, aquelas discussões, aqueles conflitos e tudo mais que tiver acontecido fique no passado.
Afinal, de que adianta você e seu ex-marido ou ex-esposa continuarem brigando, discutindo e infligindo dor um ao outro mesmo depois de separados? Este, certamente, não é o propósito, não é mesmo?
Também é importante lembrar que, por mais frustrante que seja, o divórcio pode, sim, ser a melhor saída para um casal. Pode, sim, ser uma decisão tomada com respeito e inteligência emocional. E não só pode, como deve significar a abertura de ambos para um novo futuro, no qual possam desfrutar de uma felicidade que não mais conseguiam estabelecer juntos.
Agora, você pode estar se perguntando: o que é que isso tem a ver com meus filhos? E eu lhe respondo: absolutamente tudo.
Tudo o que você faz, seus filhos aprendem na infância por cópia e repetição. E é sobre isso que quero lhe falar agora.
Pelas minhas salas de aula já passaram muitas pessoas que estavam em relacionamentos completamente falidos, mas não saiam do barco com o argumento: “não quero fazer isso com meus filhos”.
Também tive alunos que, porque não conseguiram lidar bem com a separação, acabaram se distanciando dos próprios filhos só para não ter de lidar com seus ex-parceiros. Isso sem falar daqueles que, depois de serem traídos pelo marido ou esposa, fizeram questão de empreender toda uma estratégia de vingança que, naturalmente, contamina os próprios filhos.
Em todos esses casos, o erro é um só: o divórcio diz respeito apenas ao casal; e o casamento é feito por apenas duas pessoas. Ou seja, nada disso deveria afetar ou alcançar os filhos, porque eles são resultado da união, mas não “membros” dela.
Por isso, aos pais em processo de divórcio, sempre digo que fiquem muito atentos à forma como estão conduzindo a situação. Até porque a mudança que virá com a separação deverá beneficiar não apenas aos dois, mas, também, aos filhos, que não mais precisarão viver num lar em que não há mais amor entre seus pais.
A máxima de que os bons exemplos vêm de casa é mesmo verdade. De acordo com a metodologia Hoffman, que sustenta o Processo Hoffman, quando ainda crianças, nossos filhos estão em processo de formação e, para isso, estão acompanhando de perto tudo aquilo que nós, os ‘grandões’, fazemos. É assim que eles vão atribuir um significado a tudo na vida, inclusive aprenderão o que significa amor, amor-próprio, casamento e relacionamento amoroso.
Ou seja, quando os pais se engajam no processo de divórcio sem proteger aos seus filhos, o que estão fazendo, sem nem mesmo perceber, é minar a capacidade desta criança de amar. Afinal, tudo o que ela aprenderá sobre amor será através da forma que eles praticaram e demonstraram o amor entre si; portanto, se o que estão ensinando é justamente o desamor… Naturalmente, isso será o que eles vão aprender.
O que estou dizendo é que o divórcio, muitas vezes, é, sim, a única solução e, se for conduzido de maneira saudável pelo casal, trará, aos filhos, uma noção importante e muito mais positiva do que é amor. Aliás, isso lhes dará também mais inteligência emocional, porque, ao assistirem seus pais saírem da relação de cabeça erguida, sem agressividade e sem desrespeito, eles aprenderão a regra valiosa de que o amor, talvez, acabe; mas o respeito e a dignidade não podem acabar nunca.
E sabe como isso se dá na prática? Com regras relativamente simples: não fale mal do seu parceiro ou parceira para os seus filhos; mantenha um bom diálogo com seu ex-marido ou esposa, afinal, vocês terão ainda de compartilhar o cuidado com as crianças; seja respeitoso(a), cordial e inteligente nessa relação, por pior que ela tenha acabado. Mostre, aos seus filhos, que vocês dois não estão mais juntos enquanto casal, mas terão, para sempre, a missão compartilhada de amá-los.
A parentalidade dividida e positiva é possível, basta que vocês dois queiram. Basta que se esforcem individualmente para que essas crianças tenham certeza de que não perderam nada com o divórcio, muito pelo contrário: ganharam uma nova chance de serem mais felizes numa nova configuração familiar.
E se, nesse trajeto, você tiver dúvidas se está no caminho certo, pergunte-se: “Quais crianças eu quero deixar no mundo? Meu desejo é colaborar para que meu filho ou filha se transforme em que tipo de indivíduo?”.
Na sua resposta, você mesmo(a) terá condições de avaliar, com toda sua inteligência emocional e espiritual, se sua maneira de agir está colaborando efetivamente com este propósito. Erros acontecem, e não existe uma cartilha que diga, com garantia, como não os cometer. No entanto, seu coração sempre lhe dará boas pistas se o que está fazendo e como está fazendo é o melhor para seus filhos; respire fundo, concentre-se e ouça essa mensagem de amor que ecoa de dentro de você.