30 de ago. de 2018
Por: Heloísa Capelas
Hoje, 30 de agosto de 2018, é Dia Nacional do Perdão. Em homenagem à data tão importante, eu, autora do livro “Perdão – A Revolução que Falta”, decidi preparar um artigo especial sobre o tema. Confira, a seguir, as 8 perguntas que mais costumo receber desde que lancei minha obra! Acredito que, com base nelas, você também vai decidir trazer o autoperdão e o perdão para a sua vida.
O perdão revolucionou a minha vida e a maneira como eu me relacionava com meu entorno, principalmente com minha família. Quando consegui me perdoar e perdoar às pessoas pelos erros e falhas do passado, também consegui fazer escolhas diferentes, seguir por caminhos até então inimagináveis e muito mais positivos.
Por conta disso, há muito tempo desejava escrever um livro com este tema, porque assim como o perdão me libertou das minhas mágoas e ressentimentos, creio que todos merecem perdoar para viver de maneira muito mais plena e muito mais saudável.
Sim, é possível. Costumo dizer que todo perdão é possível e diria até necessário. O perdão liberta a quem perdoa. Nós não temos como inferir se produzirá algum efeito em quem foi perdoado e essa é uma das grandes confusões que se faz sobre o perdão. Temos a tendência de acreditar que perdoar é um gesto de ingenuidade. Como se significasse que estamos autorizando, ao outro, que volte a nos magoar, ou que continue a fazer parte de nossas vidas. E perdoar não é isso, quer dizer, não tem a ver com esquecer ou com permissividade.
Na realidade, trata-se sumariamente de um gesto positivo e benéfico a quem o pratica. Do contrário, estaremos escolhendo, ainda que inconscientemente, continuar presos ao ressentimento, à mágoa e à vingança. Ou seja: você pode, sim, perdoar e escolher demover da sua vida as pessoas que lhe magoaram; ou escolher dar uma segunda, terceira, quarta chance. Uma coisa não está diretamente associada à outra. O que importa, mesmo, é perceber que o rancor só faz mal para quem o nutre, não para quem o “recebe”.
Eu diria que não. Sobram exemplos de pessoas que deram conta de perdoar criminosos, de perdoar maldades terríveis, de perdoar aquilo que tanta gente considera “imperdoável”. A questão, como eu disse, é que a falta de perdão só prejudica diretamente a quem não perdoa. Ficar remoendo os acontecimentos do passado, buscar vingança, nutrir a raiva ou o ódio são comportamentos muitas vezes inconscientes, que, em primeiríssima instância, trazem prejuízos apenas a quem os mantêm.
Quando perdoamos, nós nos libertamos da mágoa, do ressentimento e da vinnça, das emoções negativas que, segundo a ciência, desencadeiam uma porção de doenças, inclusive o câncer. Mas, além da saúde física propriamente dita, o perdão também beneficia a saúde emocional. Se continuamos presos aos acontecimentos negativos do passado, criamos uma espécie de fechamento mental que nos impede de seguir adiante, de enxergar novas possibilidades e, enfim, de viver melhor e mais plenamente.
As traições de todos os tipos são as que mais mexem com nossa autoestima e com nosso amor-próprio. Quando traídos, nós nos sentimos inferiorizados, menosprezados e piores “que o resto”. E é exatamente isso o que ninguém quer sentir! Pelo contrário, toda a nossa base de comportamentos e de emoções nasce do nosso desejo profundo de sermos apenas amados, e amados incondicionalmente.
A traição é, portanto, o maior desamor que podemos viver, é uma certeza profunda de que não somos dignos o suficiente de sermos amados. Mas, é claro, nem todo mundo se dá conta de que é isso que está sentindo, porque muitas vezes essa sensação é inconsciente, bem como os comportamentos que decorrem dela. Por impulso, diante da traição, nós buscamos algum tipo de vingança para devolver ao outro a mágoa que nos foi causada. Por isso, é tão difícil superar uma traição.
Perdoar é uma escolha necessária inclusive nesses casos, mas reatar ou renovar a relação depende bastante do casal. É preciso um tipo de abertura e de disposição para que se possa reaver os termos estabelecidos para aquela relação. E, principalmente, é preciso entender que o único amor incondicional que temos a condição de viver é o amor-próprio. Duas pessoas que amam a si mesmas, que conhecem e respeitam as próprias limitações e qualidades, têm mais condições de estabelecer uma relação saudável.
Como disse antes, perdoar demais nunca é um problema, mas, sim, uma solução. O que é preciso fazer é dissociar o perdão da permissividade. Eu posso escolher perdoar e decidir que aquele tipo de situação ou que aquela pessoa não vão mais me magoar. Tudo isso é escolha, mas muita gente acredita que se trata de uma escolha impossível. Por isso é que a consciência de si mesmo é tão importante. Nós somos os responsáveis por nossa trajetória, e ninguém mais, além de nós mesmos, pode decidir o que é melhor ou qual caminho seguir.
Perdoar é uma questão de inteligência emocional; esquecer é uma questão neurológica. Esquecer ou não é, portanto, algo muito individual, que não se dá por meio de uma escolha. O perdão ajuda você a sair do ressentimento e, com isso, de ficar lembrando e relembrando a todo momento aquela dor. Perdoar não significa apagar o evento de sua memória, mas, reforço, significa tirar a mágoa e a dor de dentro de si. Perdão é uma escolha, uma decisão. Então, eu escolho não mais ressentir o que passou, ainda que me lembre perfeitamente (ou não).
O perdão não se dá do dia para a noite, como num passe de mágica. É preciso intenção e treino, e é um caminho contínuo a ser percorrido diariamente até, de fato, conseguir instalar o perdão. Parte importante desse processo, como conto no meu livro, está no exercício da compaixão e empatia.
Eu preciso entender que, assim como eu, o outro também não é perfeito, também comete erros e, na maioria dos casos, não teve intenção alguma em me machucar (assim como eu mesma nunca tive a intenção de machucar as pessoas ao meu redor e, mesmo assim, eventualmente, acabei machucando). Essa consciência, por si só, traz fortalecimento interno e inteligência emocional. Eu passo a viver melhor comigo e com meu entorno a partir do momento em que conquisto compaixão e empatia.
1) Pratique a autoconsciência | Algumas das nossas mágoas mais profundas estão inconscientes e afetam nosso comportamento sem que a gente possa se dar conta. É preciso reconhecê-las e assumi-las para si, ainda que sejam muito doloridas ou, ao contrário, pareçam até bobas ou pequenas.
2) Evite a autocrítica | Ao identificar os próprios rancores, muita gente exagera na autocrítica e passa a se enxergar como uma pessoa inferior, pior ou até mais maldosa que as demais. Esses pensamentos automáticos precisam ser superados para que se possa, efetivamente, compreender e lidar com as dores que se sente.
3) Faça-se perguntas pontuais | Não são apenas os grandes acontecimentos que se tornam imperdoáveis e que nos levam ao círculo vicioso da vingança e da autovingança. Muitas vezes, episódios cotidianos e aparentemente irrisórios também nos impactam muito negativamente. Então, em vez de focar apenas nas memórias antigas, observe-se também no dia a dia: quais situações costumam lhe tirar do sério, lhe deixar ofendido, lhe magoar ou entristecer? E quando isso acontece, como você reage?
4) Amplie sua compreensão sobre o outro | Assim como você se constituiu de maneira única, o mesmo vale para o outro. Seus valores, noções e maneiras de se comportar são seus, apenas seus. O outro não tem como atender suas expectativas, assim como você não tem como atender as dele. Essa compreensão vai lhe ajudar a se sentir menos frustrado ou magoado em suas relações.
5) Desmitique suas crenças sobre o perdão | Perdoar não é esquecer, não é um superpoder, não é uma habilidade para poucos e, muito menos, é algo que te torna fraco ou inferior em relação ao outro. Perdoar é uma escolha inteligente, que lhe trará saúde, longevidade e melhorará sua capacidade de se relacionar consigo mesmo e com o outro.