05 de jan. de 2022
Por: Heloísa Capelas
Hoje em dia, muita gente fala sobre a importância da empatia – essa habilidade emocional que, de forma simplificada, possibilita que nos coloquemos honesta e verdadeiramente no lugar do outro. E, em tempos tão complexos como estes que estamos atravessando, em que qualquer acontecimento serve de gatilho para discussões e desentendimentos irreparáveis, tenho a convicção de que difundir essa capacidade nunca foi tão urgente.
Com base na minha experiência como especialista em Autoconhecimento e Inteligência Emocional, posso afirmar que a empatia é uma das habilidades mais poderosas para que possamos desenvolver nossa Inteligência Social – ou seja, para que possamos revolucionar, de forma consistente e positiva, a maneira como temos nos relacionado com o nosso entorno.
Sim, eu estou certa de que a empatia é o que vai nos ajudar a construir uma sociedade mais igualitária, menos egocêntrica e individualista, mais colaborativa e colaboradora. Mas, antes de lhe explicar o que é e para que serve a empatia, primeiro, quero lhe contar o que NÃO é empatia (portanto, se você já fez essas confusões, comece por desfazê-las!):
Ou seja, empatia não é agir de forma que nos faça sentir mais/melhor ou menos/pior que o outro. Não é porque ele(a) está vivendo uma má fase que, “pobre coitado(a)”, temos de parar nossas vidas para consolá-lo(a); também não é porque está feliz da vida que temos de calar a nossa dor, afinal, “ninguém se importa mesmo com os meus sentimentos”.
Quando praticamos empatia, o que estamos fazendo, essencialmente, é sair desse paradigma da comparação baseada em pré-julgamentos e em vitimizações. Na empatia, eu encontro, dentro de mim, emoções e pensamentos que refletem os do outro, que são como espelhos do outro. Eu sou capaz de compreender que não foi comigo, que aquilo não me aconteceu, mas, porque aconteceu e doeu no outro, também repercute em mim.
Na empatia, portanto, eu não me acho menos ou mais; eu apenas compreendo, de um ponto de vista muito profundo e pessoal, o que aquela pessoa está vivendo. E, porque consigo sentir/pensar a partir do ponto de vista alheio, “como se fosse comigo”, consigo reagir de maneira apropriada, cuidadosa, amorosa e respeitosa.
Veja só: a empatia é, então, o passo decisivo para que se alcance a compaixão – que, por sua vez, é o profundo pesar pelo sofrimento alheio acompanhado de um sincero desejo de aliviar a dor e de remover a causa daquele sofrimento.
Pronto(a) para ir em frente?
Eu defendo que a empatia é uma capacidade que pode e merece ser desenvolvida em todos nós e que, se me permite dizer, deveria ser tratada como prioridade em nossas vidas. E sabe por quê? Porque todos já fomos (e, provavelmente, voltaremos a ser) vítimas da falta de empatia, inclusive você.
Você também já deve ter tido um dia muito ruim, uma dor muito forte, uma mágoa muita grande, uma experiência que lhe fez duvidar da sua própria capacidade de superação. E, infelizmente, as chances são de que, quando isso aconteceu, também se sentiu desamparado(a), descuidado(a), ignorado(a) como se ninguém, no mundo, fosse capaz de entender o que você estava passando.
E sabe o que é pior? Talvez, fosse verdade. Talvez, por falta de empatia das pessoas ao seu redor, você tenha, sim, sobrevivido a tudo isso (e, claro, aprendido muito com tudo isso). Mas eu preciso que acredite em mim quando lhe digo: não precisava ter sido tão difícil assim.
Ninguém merece passar sozinho por todos esses sufocos ou encarar sozinho todas essas dores que a vida nos apresenta.
Ainda hoje, nós fantasiamos muito que, quanto mais difícil o processo, mais forte o aprendizado, a construção, a superação – e nem sempre isso é verdade (aliás, quase nunca é). Nós somos capazes e merecemos aprender com as dificuldades, mas não há mérito nenhum e nem aprendizado a mais só porque elas se tornaram mais difíceis do que, em tese, precisavam ser.
Ou seja: você merecia e merece melhor. Você merece ter sua dor ouvida, compreendida e respeitada. Você merece ter um espaço de acolhimento, onde se sinta protegido(a) e preservado(a) quando as coisas não vão bem. Você merece ser tratado(a) com atenção e compaixão. E, assim como você, todo mundo merece um tanto de empatia.
Quando fui escrever o meu livro “Perdão, a Revolução que Falta”, fiquei bastante tempo buscando formas claras de explicar por que é que perdoar é uma questão de inteligência. Isso porque, para muita gente, perdoar é sinal de fraqueza, de fragilidade, de vulnerabilidade; como se, ao decidir por este caminho, estivéssemos ‘apagando’ o que passou – e não, não é assim que funciona.
Perdoar não é esquecer. Perdoar é deixar para trás. Simples assim. Quando eu perdoo, necessariamente, o outro não precisa nem mesmo saber que foi perdoado; o efeito do perdão se restringe a mim: eu é que consigo seguir em frente sem mais carregar aquele ressentimento, aquela dor e aquela mágoa! Ufa. Já pensou como é bom?
Algo similar acontece com a empatia. Ter empatia não é ser conivente com comportamentos antiéticos, como disse no início. Você pode, sim, compreender, profundamente, que a falta de oportunidades foi determinante, em maior ou menor grau, para que uma pessoa cometesse ações criminosas. E, com base nessa consciência, pode ter uma imensa empatia por essa pessoa. Ponto.
A empatia não se traduz em justificativas ou desculpas; é apenas uma capacidade de oferecer, ao outro, um reconhecimento expresso que valide suas vivências. Quase como dizer honestamente: “se fosse comigo, eu não sei se teria feito melhor”.
E eu lhe digo por que é que isso importa tanto: porque, como somos relacionais, nós, enquanto seres humanos, precisamos do outro para validar nossa existência. Nós não somos ermitões no alto da montanha, mas, sim, indivíduos que, organizados em sociedade, encontram propósito de vida. Vem, da relação com o outro, a validação daquilo que somos, pensamos e sentimos.
Isso, por si só, já basta para explicar por que é que temos de praticar empatia não só com as pessoas a quem amamos, mas, também, em relação àquelas cujas ações, valores e crenças nos parecem irrazoáveis.
Será mesmo que, se estivesse no lugar dela, com a história dela, vivências dela, e crenças dela, você teria feito diferente? Teria feito melhor?
Se estiver realmente consciente da sua humanidade, ou seja, autoconsciente de que é um ser imperfeito que comete falhas, terá respondido que não. Você não tem como saber o que teria feito, essa é a verdade.
A empatia tem sido categorizada em três variações, que vou explicar simplificadamente:
Em suma, de acordo com a ciência, cada uma dessas empatias ativa uma área diferente do cérebro, mas todas, de uma forma ou de outra, tendem a resultar em mais saúde neurológica. Isso porque, quando empregada, a empatia resulta rapidamente em melhores relacionamentos tanto na vida pessoal, como na vida profissional – já que estimula positivamente nossos neurônios e nossas sinapses.
Agora, falando especificamente sobre cada tipo de empatia que já foi mapeada pela ciência, pense, por exemplo, nos efeitos práticos que cada uma delas pode ter na sua vida.
Imagine um chefe capaz de responder com empatia cognitiva, ou seja, capaz de pensar em como você vai se sentir se ele lhe disser determinada coisa, de determinado jeito; capaz de pensar em qual reação causará quando lhe pedir para executar determinada tarefa; capaz de tentar, honestamente, compreender por que é que você age de determinada forma, e não de outra.
Ou ainda: imagine um chefe capaz de agir com empatia emocional, ou seja, capaz de compartilhar, com você, os sentimentos que afloram diante de cada desafio profissional. Capaz de saber, efetivamente, como e por que é que uma proposta lhe faz se sentir motivado(a), enquanto a outra lhe causa medo e desânimo.
Por fim, imagine um chefe preocupado empaticamente que, não só sabe como você se sente, mas que também é capaz de lhe prover o que você precisa para superar obstáculos e seguir em frente.
Veja só como esses perfis são importantes na nossa carreira e podem fazer muita diferença para nossa evolução profissional… E na nossa vida pessoal, então, já imaginou? E perceba: você, então, pode se tornar esse chefe, pode se tornar essa pessoa empática dentro e fora do trabalho, desde que decida por esse caminho.
Para encerrar esse conteúdo, a última coisa que tenho a compartilhar – e, certamente, a mais importante – é que há algo em comum em todos esses perfis que descrevi: não há empatia se não houver Autoconhecimento.
Só é possível desenvolver essa habilidade emocional da empatia se você, em primeiro lugar, puder conhecer a si mesmo(a), puder rever sua própria trajetória, puder perdoar suas falhas, e reconhecer positivamente suas qualidades.
Você só pode entregar, ao outro, aquilo que entregou para si em primeiro lugar. Não à toa, empatia é um dos grandes benefícios obtidos pelos participantes dos meus cursos, a vivência de Autoconhecimento mais eficaz do mundo, de acordo com a ciência.