02 de abr. de 2022
Por: Heloísa Capelas
Quando se fala em inovação, a maior parte das pessoas logo pensa e relaciona o termo ao ambiente corporativo e/ou ao mercado como um todo. Inovação de produtos, de processos, de modelo de negócio, enfim, seja qual for a variação, está claro que há muita gente trabalhando para gerar novidades nos mais diversos âmbitos e segmentos profissionais.
O que muitos ainda ignoram é que a inovação também é possível e necessária na vida pessoal. Aliás, com base na minha experiência de mais de 30 anos em treinamentos comportamentais, eu iria além: para mim, está muito claro que os profissionais mais capazes de inovar nas suas carreiras e/ou para suas empresas também são os que têm maior comprometimento com a inovação em suas próprias vidas.
Então, hoje, quero lhe falar sobre este assunto, ou seja, sobre a relação inerente que há entre Autoconhecimento e inovação. Neste caso, a primeira coisa que gostaria de esclarecer é que, aplicada à sua vida pessoal, inovação não significa fazer mais do que você já faz, mas, sim, fazer diferente para que possa obter novos resultados.
Se você é muito bom com as palavras, por exemplo, quanto mais se dedicar à escrita, naturalmente, melhor escreverá; ou seja, tempo, prática e repetição sempre vão se traduzir em melhores resultados. Mas, se quiser inovar, além da sua dedicação, terá de descobrir um jeito diferente de aplicar a sua habilidade, uma forma que nunca nem havia imaginado utilizá-la. Assim, consequentemente, terá mais condições de descobrir e desenvolver talentos que teriam lhe escapado: você pode se tornar, quem sabe, um excelente locutor ou alguém que faz muita diferença na luta contra o analfabetismo.
É sobre isso que estou falando: inovar, na vida pessoal, é promover uma transformação, fazer algo que nunca fez, de um jeito que nunca fez – e isso só será possível se você se apropriar da sua criatividade, se encontrar espaço psíquico para se “desfazer” do velho e se engajar com o novo. Mas o que Autoconhecimento tem a ver com isso?
Costumo dizer que todos nós deveríamos enxergar a vida como um grande laboratório, ou seja, como uma chance única de experimentar, de tentar, de se arriscar, de falhar e, enfim, de aprender. Tal como fazem os cientistas, que, às vezes, passam décadas debruçados numa única pesquisa em busca de uma única descoberta, nós também teríamos de ter o mesmo compromisso com nossas próprias autodescobertas, sejam elas quais forem.
No entanto, por pura falta de consciência, temos permanecidos presos às nossas próprias histórias e experiências pessoais negativas, bem como às histórias e experiências negativas dos nossos antepassados, da nossa sociedade e da humanidade como um todo, o que acaba com a nossa capacidade de inovar.
O que estou dizendo é que devemos, sim, olhar e aprender com o passado; mas não podemos ficar presos a ele. Eu sou grata, muito grata a tudo o que já foi, a todos os erros e acertos que nos trouxeram até aqui, mas e agora? Para aonde vamos? E como vamos chegar lá?
Esse é o princípio da inovação na vida pessoal e, por que não, coletiva. Temos de encontrar soluções e respostas para os nossos incômodos, para todas essas questões que ‘sempre foram assim’, mas ‘assim não nos servem mais’.
O melhor exemplo que posso lhe dar é a maneira como temos lidado com nosso lixo. Não tem muito tempo, nossos antepassados não se preocupavam com essa questão, porque, afinal, nem produziam toda essa quantidade de produtos e dejetos. Depois deles, vieram as sociedades em que, de fato, a quantidade de lixo produzida aumentou perigosamente, sem que ninguém fizesse nada a respeito. E, agora, aqui estamos nós, cientes e conscientes do tamanho do problema, mas, ainda assim, muitas vezes, ignorando nossa responsabilidade, fingindo que a reciclagem ou o consumo consciente e responsável não estão nas nossas mãos.
Esse é o perigo do apego ao passado: porque antes nada foi feito a respeito do lixo, isso não significa que podemos ficar de braços cruzados agora. É nosso papel assumir a responsabilidade por novas respostas, capazes de solucionar ou amenizar o problema, para que as gerações futuras continuem tendo condições de viver num planeta saudável.
Inovar é sinônimo de liberdade. Sou eu, livre das minhas crenças; da minha certeza de que isso está certo e, aquilo, errado; de que isso pode, mas aquilo não; de que o que importa é se sou contra ou a favor.
Estamos vivendo uma fase muito delicada no Brasil e no mundo, mas o que mais me chama a atenção é que muitos estão competindo entre si não porque querem uma solução eficaz, não porque querem que a paz e o amor vençam, mas, sim, porque desejam profundamente que o outro esteja errado.
Por que é que importa tanto estar certo quando há tanta coisa em jogo? Será mesmo que só você está 100% certo e que, portanto, o outro só pode estar 100% errado? O que você ganha com isso? E, pior: você sabe o que perde com isso?
Repito o que acabei de dizer: inovar é sinônimo de liberdade. Eu preciso estar livre, desamarrada, aberta para poder experimentar, para poder correr riscos, para eventualmente errar – e assumir que errei! E qual é o problema?
O que estou querendo lhe mostrar é que a inovação parte do pressuposto evidente de que algo novo será feito. Mas se eu não me abro, se não aceito questionar meus pontos de vista, se continuo presa à convicção de que o único jeito de pensar, de agir e de ser é o meu (e, portanto, todos que fazem diferente de mim estão errados), não há nada de novo em mim, em quem eu sou ou serei num futuro próximo.
Eu continuo sendo apenas eu. A mesma. Dando respostas iguais aos velhos problemas. E me abastecendo da ideia de que, pelo menos, eu estava certa.
O que o Autoconhecimento traz para a vida de quem se compromete com a inovação é a capacidade de errar diferente. Em vez de cometer os mesmos erros diante dos mesmos problemas, eu me dou a chance de criar uma resposta nova que talvez me leve a um resultado melhor; talvez, não.
Mas, quando eu inovo, eu sei que a responsabilidade de tudo isso é minha. Sou eu que desejo criar uma nova realidade para minha vida, sou eu que estou arriscando, sou eu que transgredi minhas velhas regras e crenças para oferecer, a mim mesma, possibilidades diferentes.
Então, inovar é, acima de tudo, um ato de coragem e de amor-próprio, porque requer que eu tenha confiança o suficiente para empreender em direções desconhecidas.
E tudo isso vem do Autoconhecimento. Se você não puder olhar para sua história, se não puder agradecer e se desapegar dos erros e acertos que lhe trouxeram até aqui, e se não puder se abrir para novas falhas e novas conquistas, seus resultados continuarão os mesmos.
O meu convite, neste artigo, é que você pratique a inovação nos pequenos detalhes. Comece pelo seu lixo, por exemplo. Comprometa-se a reciclá-lo, a consumir de forma consciente, a fazer a sua parte.
Depois, perceba o que está fazendo com seu lixo mental e emocional, desenvolva a capacidade de reciclar também aqueles pensamentos e sentimentos que não lhe servem mais.
E, acima de tudo, estabeleça a compaixão em relação ao outro: “como eu, você também”; “como você, eu também”. Aceite a igualdade inerente a cada ser humano, porque somos, sim, todos iguais.
Eu repito: faça a sua parte. As chances são de que você não vai mudar o mundo, mas vai mudar a si mesmo(a). E, como consequência, influenciará positivamente a todos aqueles que estão num raio de 20m de distância, ou seja, a todos aqueles que lhe importam. Isso é inovar. Isso é inovação.
Hoje, eu lhe proponho: o que é que você pode fazer já, a partir de agora, que nunca fez na sua história?
Pode identificar e assumir seus ressentimentos e mágoas do passado?
Você pode perdoar ou pedir perdão?
Pode combater o mau humor com sua esperança e amorosidade?
Qual risco você pode e vai correr em busca de uma vida melhor, mais saudável, mais feliz e diferente da que tem hoje?