10 de out. de 2020
Por: Heloísa Capelas
Hoje, quero lhe falar um pouco mais sobre a importância do Autoconhecimento e da Autoconsciência, as duas ferramentas que mudaram a minha vida e que, se você assim quiser, vão revolucionar a sua trajetória também.
Então, para começar, a primeira pergunta que quero lhe fazer é:
Para ficar mais fácil, vou ser um pouco mais específica. Então, por favor, pare e pense um pouquinho no exemplo que vou lhe propor a seguir:
Você tem uma maneira de se relacionar com as pessoas, certo? Como é esta maneira?
Rapidamente, por favor, dê a si mesmo(a) três adjetivos que considera apropriados para descrever quem e como você é nos seus relacionamentos. Características que você reconhece em você e que você costuma usar na maior parte das suas relações (não só no contato com seus entes queridos).
Agora… Me conte. Desde quando você é assim? Ou, ainda, com quem aprendeu a ser desse jeito?
Será que sua mãe e/ou seu pai (ou as pessoas que lhe foram referência na infância) agiam de maneira parecida? Você daria, a eles, um ou mais dos adjetivos que atribuiu a si mesmo(a)? Ou será que eles faziam exatamente o oposto do que você faz hoje?
E, por fim, minha última pergunta é: quando você age deste jeito que acabou de identificar – ou seja, quando coloca em prática uma, duas ou as três características que atribuiu a si mesma(o) –, o que é que você ganha com isso? Será que você perde alguma coisa? O quê?
Se conseguiu responder às três perguntas que lhe fiz, parabéns: você, agora, sabe algo importante a seu próprio respeito que provavelmente não sabia antes de começar a ler o meu texto. E, porque agora tem mais autoconsciência de como se relaciona com os outros, também tem mais condições de mudar esse “jeitão” (se assim quiser).
Talvez ainda não esteja claro, então, veja só: o que eu acabei de fazer foi lhe mostrar, na prática, quanto vale e para que vale seu Autoconhecimento. Quando eu mesma tive de fazer esse exercício, o que descobri a meu respeito estava “na minha cara o tempo todo”, como dizem por aí, e só eu não queria ver.
Naquele momento, como parte do trabalho de Autoconhecimento que estava prestes a realizar, a primeira coisa que descobri a meu respeito é que eu era muito, muito autoritária nas minhas relações. Isso, por si só, foi superdifícil constatar, mas, tudo bem, precisava segui em frente. Daí, logo, arrumei a quem “culpar”: na minha infância, meus pais tinham sido muito, muito autoritários; claro que eu havia aprendido com eles! Então, a culpa era deles, não?
Bem, por fim, eu percebi que pouco importava de quem era a culpa… Independentemente disso, era eu quem me mantinha autoritária e, portanto, era eu quem causava constantes chateações, mágoas e frustrações nas pessoas ao meu redor (principalmente as que eu mais amava).
Então, só eu mesma poderia mudar o meu autoritarismo se quisesse estabelecer relações de melhor qualidade. Antes de me identificar como autoritária, eu não tinha ideia do mal que aquilo causava; nem sabia que podia mudar esse jeito de ser.
No Processo Hoffman, nós temos uma máxima que diz que “todos são culpados, mas ninguém tem culpa”. De volta ao exemplo que dei sobre mim mesma, era verdade: meus pais tinham me ensinado o autoritarismo, mas se ali, adulta, eu continuava a usar esse comportamento, a culpa não era mais deles; era minha, certo? Até aí, tudo bem, mas… Afinal, de que me adiantava procurar por culpados? O que essa informação poderia me trazer de bom?
Essa é a deixa para darmos o terceiro passo importante da trajetória de Autoconhecimento. Em algum momento do caminho, nós compreendemos que, se erramos ao adotar determinados comportamentos, só o fizemos porque não sabíamos melhor. Nós não tínhamos consciência do que estávamos fazendo e, pior, agíamos de maneira compulsiva e automática.
Eu nunca fui autoritária com a intenção de magoar ninguém. Aliás, eu nem sequer agia assim de propósito! Sem nunca ter me dado conta, o que eu trazia, da infância, era a crença de que o autoritarismo conferia poder às pessoas; quando autoritárias, elas eram mais respeitadas e obedecidas (afinal, era isso que eu sentia em relação aos meus pais, certo?). E era isso que, já adulta, eu queria das pessoas ao meu redor; digo, desejava profundamente que elas me respeitassem e me atendessem em minhas vontades!
Mas se eu repeti esse comportamento à exaustão sem ser por mal, nem com intenção e nem percebendo… Meus pais também! Eles também não foram autoritários por mal, intencionalmente ou sabendo que aquilo me fazia mal, que me causava dor e impotência. E, se eu aprendi com eles a agir desta forma, com quem será que eles aprenderam?
Compaixão e perdão. Eu diria que essas são as mais duas poderosas ferramentas descobertas por todos que se lançam ao caminho do Autoconhecimento.
Se nós perpetuamos padrões de comportamento negativos sem perceber, nossos pais também o fizeram. Eles também aprenderam com nossos avós, que aprenderam com nossos bisavós. E o ciclo segue assim, desde que o mundo é mundo. Ou seja, como disse antes, todos são culpados, mas ninguém tem culpa.
Quando compreendemos a nossa própria história por essa perspectiva, compreendemos, também, que nossos defeitos e falhas são inevitáveis. Essa é a natureza humana: todos erramos, muitas vezes na melhor das intenções de acertar.
É por isso que a compaixão – esse sentimento de igualdade em relação a todos que nos cercam – é tão importante nessa trajetória. Quando a internalizamos, nós nos tornamos muito mais capazes de perdoar, porque entendemos que ninguém fez ou faz por mal.
Eu fui autoritária, mas merecia perdão. Não o perdão do outro, necessariamente, mas o perdão a mim mesma em primeiro lugar. Eu sei que machuquei as pessoas ao meu redor, que causei frustração e dor, mas não fiz por mal. Da mesma forma, os meus pais também merecem perdão. Não importa quais tenham sido os erros que cometeram, eles também não fizeram por mal, nem com intenção, nem percebendo.
E se você chegar até aqui, se conseguir ligar todos esses pontos que acabei de lhe apresentar, eu tenho uma ótima notícia para lhe dar:
Então, eu volto para o início. Questione-se sobre seus comportamentos não só nos relacionamentos, mas em todas as esferas da sua vida.
Descubra de onde eles vêm e o que eles lhe trazem em termos de resultado.
Aceite e ame-se por todas as maravilhosas qualidades que descobrir pelo caminho – sim, você não é feito(a) só de falhas, há muita coisa boa a ser descoberta a seu próprio respeito! Fique com tudo aquilo que lhe faz bem e manifeste gratidão aos seus pais, estejam eles vivos ou mortos, por terem lhe ensinado a agir assim.
Abrace, também, os defeitos que encontrou. Eles têm sido seus, mas não são você. E se você aprendeu a agir assim, também pode desaprender.
Refaça os passos da compaixão e do perdão. E, daí, é treinar o novo comportamento.
Eu aprendi a respirar fundo diante das situações em que, normalmente, agia de forma autoritária. Aprendi a me manter equilibrada diante de situações que, antes, me faziam perder o controle; aprendi a ser grata aos eventos e pessoas que, via de regra, me tiravam do sério (nada disso era por mal e nem contra mim!).
E você? O que pode fazer para mudar seu comportamento por um novo e melhor?
Invista nisso, desde já! A mudança começa por você.